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Biografia:

Clóvis do Rego Monteiro (1898-1961)

 

QUEM FOI CLÓVIS MONTEIRO?

Nicole Cavalcante Duque Gredilha Coelho (UERJ)

 

      Clóvis do Rego Monteiro nasceu em 10 de setembro de 1898 em Fortaleza, Ceará, e faleceu em 13 de julho de 1961, no Rio de Janeiro. Sua vida profissional foi iniciada cedo, por volta dos 16 anos, uma vez que precisou sustentar sua família devido ao falecimento do pai. Tornou-se, primeiramente, secretário do jornal cearense A Tribuna e, depois, membro das revistas literárias Fênix e Colombo, além dos jornais Unitário e Correio do Povo (Bomfim, 1996). Cerca de três anos depois, com 19 anos, começou a trabalhar como Professor Normalista da Armada, na Escola de Aprendizes de Marinheiro, do Ceará. Escreveu sua primeira tese, Morfologia e sintaxe dos substantivos na língua portuguesa, em 1920, com apenas 21 anos, como uma tentativa de concorrer à Cadeira de Português no Colégio Militar do Rio de Janeiro.

      Formou-se, posteriormente, em Direito pela Universidade do Ceará e, com 28 anos, mudou-se efetivamente para o Rio de Janeiro, no mesmo ano em que realizou o concurso para Professor do Ensino Secundário da Prefeitura do Distrito Federal, obtendo o primeiro lugar (1928). Concorreu também à Cadeira de Literatura para a Escola Normal do Distrito Federal e, nessa ocasião, ficou com as mesmas notas da escritora modernista Cecília Meireles, conquistando o primeiro lugar ao apresentar sua tese Traços românicos na poesia brasileira (1829).

      Realizou o concurso para a Cadeira de Português do Colégio Pedro II duas vezes, na esperança de conquistar o maior título que um intelectual poderia possuir, visto que o Colégio Pedro II era, até então, o grande centro intelectual de produção de conhecimento científico de sua época: a primeira tentativa se deu ainda em 1926, com a tese Da tendência analítica na evolução do nosso idioma, ficando atrás de Quintino do Vale; e a segunda lhe garantiu o primeiro lugar, com a tese A linguagem dos cantadores, escrita em 1933.

      Como professor, possuía uma extensa e variada cultura linguística, literária e histórica, fato exposto durante as aulas e em cada uma de suas obras. Era, conforme Malveira (2018, p. 10), um “intelectual de ideias próprias e quando citava autores estrangeiros, tinha sempre sua conclusão pessoal e lógica”. Junto disso, também tinha um grande carinho por seus alunos, “tanto que punha à disposição dos menos afortunados sua primorosa biblioteca, no Cosme Velho” (ibid., 2018, p. 10). De acordo com sua filha, Clóvis

[...] não lecionou apenas em estabelecimentos oficiais de ensino. Trabalhou em vários colégios particulares de renome, Andrews, Jacobina, Santo Inácio, São Bento, Sion. Com a criação das Faculdades de Filosofia Ciências e Letras, em 1939, foi catedrático fundador da Faculdade Santa Úrsula, hoje USU, da Faculdade Católica, posteriormente PUC-Rio e da Faculdade Lafayette, depois UEG e hoje UERJ. Foi também professor do Instituto Rio Branco, a convite de Guimarães Rosa (Bomfim, 1996, p. 11).

      Era árduo amante da literatura, tendo escrito diversas poesias durante o período de sua vida, “na maioria, sonetos parnasianos, de versos decassílabos ou alexandrinos, revelando um poeta inspirado e um artista esmerado”, segundo sua filha (ibid., 1996, p. 11). Após sua morte, esses documentos foram reunidos e publicados pelos filhos de Clóvis e pelo Departamento de Letras da PUC-RJ em seu centenário, no livro intitulado Sombra e luz versos. O amor pela literatura, porém, extrapolava os aspectos estéticos e literários e, de acordo com Malveira (2018, p. 10), durante suas aulas, “quando recitava versos de Camões focava, com minúcias, não só a essência da língua, mas todos os aspectos sócio-históricos, geográficos e antropológicos da nação portuguesa na época da sua expansão marítima”.

      Além de sua atuação nas áreas do magistério e da pesquisa científica, trabalhou como diretor da Escola Secundária do Instituto de Educação, em 1937; do Colégio Pedro II, Internato, de 1938 a 1947, do Externato, no período de 1956 a 1961; e também foi Secretário Geral de Educação e Cultura durante o governo do prefeito Mendes de Moraes, criando o almoço escolar e as escolas rurais (Bomfim, 1996).

      De sua produção intelectual, quatro de suas obras foram produzidas, a princípio, como teses, submetidas para aprovação em concursos para o magistério, como visto acima. A primeira delas foi Morfologia e sintaxe dos substantivos na língua portuguesa, escrita para o concurso do Colégio Militar do Rio de Janeiro, em 1920. Cerca de seis anos depois, em 1926, escreveu sua segunda tese, Da tendência analítica na evolução do nosso idioma, dessa vez dirigida à Congregação do Colégio Pedro II. Traços do romantismo na poesia brasileira se configura como sua terceira tese e foi apresentada em 1929, ao disputar a Cadeira de Literatura Vernácula para a Escola Normal do Distrito Federal. Sete anos depois da primeira tentativa da Cadeira de Português do Colégio Pedro II, Clóvis apresentou sua última tese, A linguagem dos cantadores, a qual lhe conferiu a aprovação em primeiro lugar.

 

Nota da administradora: O texto nesta página reproduzido é uma das seções componentes de "O processo de montagem do Arquivo Clóvis Monteiro", de autoria de Nicole Coelho, um dos capítulos integrantes da publicação Nas brechas das teorias: notas dos jovens pesquisadores do Grupo Arquivos de Língua (2023), organizada por Ana Paula Grillo El-Jaick, Michel Marques de Faria, Phellipe Marcel da Silva Esteves, Thaís de Araujo da Costa e Vanise Gomes de Medeiros. Para detalhes acerca das referências utilizadas pela autora e para a leitura do capítulo na íntegra, acesse a obra completa gratuitamente clicando aqui.